quarta-feira, 23 de junho de 2010

Viagens 4x4


( Ranger cd 4x4 2007)

Bom, sou portador do chamado "SIRICUTICO", o que acredito ser genético e ter herdado do meu pai, em suma, os sintomas são: não conseguir ficar muito tempo em um mesmo lugar, gostar de estar sempre em movimento, e estar sempre inventando o que fazer. Desde pequeno, estava sempre viajando com meus pais, pequenas viagens pelo estado de São Paulo, e esporadicamente se arriscando nas nossas divisas, "ora pros lado de Minas Gerais", "ora pros lado do Paraná", e ponto. Mas nossas ambições sempre foram grandes, queríamos conhecer o Brasil, o mundo e até a Bahia. Mas faltava muita coisa para a realização desses sonhos, e o tempo passou, eu cresci, casei, e o "SIRICUTICO" em min anestesiado por tantas mudanças, se manifestou de forma latente.

Antes de continuar essa historia, preciso voltar um pouco ao tempo, para explicar outro gosto meu, e que tem muito haver com o desenrolar dos fatos.

Como todo garoto sempre fui fissurado por carro, comecei a dirigir aos 14 anos escondido dos meus pais, aos 16 já fazia entregas na serralheiria onde comecei a trabalhar, e aos 18, quando tirei mihha carteira de habilitação, e quebrei meu cofrinho, vi que não tinha dinheiro suficiente para comprar um carro, pelo menos não um com que eu me identificasse, e mais, um carro que eu tivesse coragem de ir para balada. Dentro das varias possibilidades, eis que aparece, em um anuncio de jornal, um CJ-5, mais conhecido como Jeep Willys, 1962 se não me falha a memória, vermelho com motor de opala e muita coisa para fazer, mais ao ve-lo pessoalmente, foi amor a primeira vista, e comprei o pois é. Bom, não sem antes pedir emprestado R$ 1.500,00 para meu pai, para pagar os R$ 4.200,00 que o dono pedia, dai para frente a ferrugem entrou em ninha veia, e comecei a trabalhar só pra sustentar o danado, fora os infindáveis finais de semana, onde eu mesmo mexia nele, dai vale lembrar quanto minha namorada, foi paciente comigo e com ele. Mas essa paciência acabou quando eu comei a fazer minhas trilhas com meus amigos, onde saia cedo aos sábado ou domingos, e voltava de noite, baludinho, geralmente com o jipe quebrado e machucado. Mas, foi uma pequena crise financeira que me separou do Gema, apropósito, Gema, pois uma das primeiras alterações que fiz no jipe, foi pintá-lo de Amarelo Gema, fiquei arrasado.


(CJ-5 1962, o Gema em um daqueles sabádos ou domingos)

E após recuperado, financeiramente falando, comecei a procurar um novo Jipe, mas os tempos eram outros, em 1999 já era difícil encontrar um jipe, mais ainda dava para comprar, mas no começo de 2001, uma febre louca pelos então desprezados jipinhos, se espalhou e os preços subiram, o que até hoje acho que fui o responsavel dessa moda, pelo menos aqui na minha cidade. O fato é que la estava eu novamente querendo, e agora precisando de um carro, com pouco dinheiro e desta vez o CJ-5 não era mais uma opção. Foi então que no fundo de uma garagem, de uma casa simples e debaixo de uma carroceria já muito judiada, um patinho feio. E como era feio, mas com muito potencial, e o melhor, era 4x4, e eu podia pagar. Claro não sem antes conseguir um desconto, deixando para trás a tão judiada carroceria. Nesse momento nasceu mais uma conturbada relação de amor e ódio, o nome dela, era F-75 4x4, que nada mais é que a pick-up da Rural, e futuramente apelidada por nos de Traquitana. A Traquitana foi um projeto ousado, onde incluía a remoção do teto, das portas e a inserção de um monte de bobagens. No fim das contas ela ficou bonita, mas, em comparação com o Gema, me trouxe menos alegrias, mais gastos e problemas com a patroa. Foi meu ultimo 4x4 enquanto solteiro.


(F-75, 1973, Traquitana)
Voltando ao ''SIRICUTICO''. Minha esposa e eu sempre conversamos muito sobre possíveis viagens, o que ela não sabia é que em minha mente, totalmente contaminada pelo ''SIRICUTICO", eu planejava tudo, e a contaminava aos poucos com os meus projetos. Brincadeiras a parte, começamos a planejar nossa viagem. Depois de casarmos fizemos varias viagens a moda antiga, sempre perto e pouco tempo, mais eu queria mais, e pra começar uma viagem pelo litoral Brasileiro, na qual foram estimados 15.000 km em 3 meses, a idéia era não ter tempo e nem rota pré definida. Mas havia vários pontos a serem contemplados. Com relação ao veiculo a ser utilizado, o ideal, seria uma caminhonete 4x4, assim teríamos espaço para bagagem e poderíamos explorar melhor as regiões por onde passássemos, mas, como não poderíamos gastar muito, optamos então por fazer a viagem de moto, bem diferente hen. Na realidade eu que optei, e só consegui a aprovação da PATROA, desde que um dos baús que eu instalasse na moto fosse só para as roupas da dela, outro apelo da moto, era a maior acessibilidade, uma vez, que sempre que possível, pretendo usar vias secundarias e poder chegar a lugares que um carro comum não chega. Hotéis ou pousadas, foram riscados de nossa lista, além do alto custo dos pernoites, em muitos casos não nos faculta fazermos nossa própria comida, nos levando a ter que fazer nossas refeições fora, e aumentando o custo da viajem. O camping parecia uma boa alternativa, custo da diária baixo, a possibilidade de montarmos nossa própria cozinha, era bem interessante, bom eu achei bem interessante, já a Ana minha esposa não era muito chegada na idéia.

(CB-400, 1981)

Muito XAVECO depois, o meu maior problema era acomodar tanta bagagem em uma moto, mas nada que um homem determinado não conseguisse. Com o básico definido, uma vez que o ponto alto desta viagem era sair a esmo, estimamos um custo, e começamos a nos organizamos, em nível de tempo para a viagem e financeiramente falando. E a noticia de nossa maluquice correu. Por um lado pessoas entusiasmadas e admiradas por nossa coragem, e por outro, pais preocupados ao imaginar uma viagem de 15.000 Km por nossas estradas de moto. Foi então, algum tempo depois, e muita "enchecao", que fiz uma proposta irrecusável aos resmungões, caso eles topassem embarcar nessa aventura, em uma parceria, poderíamos comprar uma caminhonete 4x4, agora cabine dupla, e fazermos a tão esperada viagem. Tão logo feita a oferta, meu pai, aquele, transmissor do "SIRICUTICO", juntou o necessário ao irrecusável, e começou o seu trabalho junto a minha mãe, para afastá-la por 3 meses da recém chegada netinha, por parte da minha irmã, também nada do que um homem determinado não consiga, já minha sogra, mais tranqüila com a mudança, e imune ao "SIRICUTICO", passou a vez. Dai fomos reestruturar nossos planos.

Dentro de todos os empecilhos para a partida, o maior era a conciliação do termino, e venda de dois imóveis, que meu pai e eu tocávamos. O caso é que muita água rolou, meu pai que já estava com sua obra adiantava, fez a venda, e não podia ficar com o captal parado, e resolveu partir para outra, ignorando minhas sugestões, depois de algum tempo, a situação se inverteu, e lá estava eu, com tudo pronto, e com o "SIRICUTICO" mais inflamado do que nunca.

Ta chegando à hora, entre vários prazos estipulados para a partida, creio que do dia 04/07/2010, não vai passar.

Mais, enquanto essas 2 semanas não passam, vou falar sobre uma experiência bastante interessante que tive.

Nas idas e vindas com nossos projetos de viagem, em um determinado momento, tive uma luz! Como viajar pelo Brasil, em 4 pessoas, não tendo o custo elevado de hotéis, e nem o transtorno do monta e desmonta dos acampamentos? A resposta era obvia, MOTOR HOME, mais havia alguns detalhes, como por exemplo: tem que ser 4x4, tem que acomodar 4 pessoas, tem que ser relativamente novo, já que se trata de uma viagem tão longa, não pode ser muito grande, para não perder as características Off Road e não ser difícil de trafegar por pequenas cidades ou trilhas, ou seja, algo difícil de achar, e a propósito, não podia ser caro. Resolvi então montar um motor home 4x4 que atendesse a todas as necessidades. E num golpe de sorte, ou não, achei na internet um carro até então desconhecido para mim, e para quase todas as pessoas que conheço, O MATRA.


(Matra, 2003)
O Matra foi um utilitário produzido aqui no Brasil, mais especificamente em Ibaiti no Paraná, a empresa que fabricava tratores e implementos agrícolas, viu um nicho de mercado com a saída da Toyota Bandeirantes da linha de produção, e lançou no mercado uma pick-up com jeitão de caminhãozinho 3/4, 4x4, turbo diesel, rodagem simples, cabine de fibra e com capacidade para 1300 Kg, o que fazia com que seu peso bruto total não ultrapassasse, 3.500 Kg, junto com suas dimensões cuidadosamente calculada, a pick-up que comportava uma carroceria de 2,98 x 1,98, e com altura total da cabine de quase 2,50 mts, era considerada caminhonete, não tinha restrições de circulação, pagava pedágio igual a um carro, parecia ser tudo perfeito mas, o modelo ficou apenas 3 anos no mercado, dizem as mas línguas, que a Toyota teria comprado a pequena fábrica e fechado para não atrapalhar as vendas da Hilux, já que os antigos compradores de Bandeirantes, foram obrigados a mudar para a Hilux, na minha opinião. O Matra tinha tudo pra dar certo, equipado com um motor Internacional Maxion, cambio Eaton de fácil mecânica e muito robusto e com um preço deveras acessível, faria sucesso como um utilitário rural, urbano e para os jipeiros.

(praia de Torres, RS)
Como podem ver, eu seria, e fui um ótimo vendedor do Matra, calma lá, vamos por parte. O carro era perfeito para um motor home, dava para fazer um baú que acomodasse 4 pessoas, era 2003 relativamente novo, de mecânica fácil, 4x4, e o melhor, cabia dentro do meu orçamento, o detalhe, é que encontrei apenas 2 carros em todas as minhas pesquisas, o que se for ver, não é pouco já que foram fabricados apenas 100 unidades, conforme um antigo revendedor da marca, que eu nem me lembro como achei me falou. Dos dois Matras que encontrei pela internet, um estava em Joaquim Egidio, próximo, a Campinas, moleza, a uns 40 km de casa, e o outro em Santa Maria, RS, esse um pouco mais longe a 1500 km. Fui até Joaquim Egidio ver como era esse carro pessoalmente, fiquei entusiasmado, tinha um jeitão de UNIMOG, mas lógico, que tinha que estar mais caro que o outro, e ao comparar pelas fotos, e conversas que tive por telefone, e e-mail com o proprietário do Matra de Santa Maria, parecia estar menos conservado. E foi então que surge ele, o "SIRICUTICO", e em um ato pouco pesado, ofereci o Honda Fit da Ana, o que quase deu em morte. Bom, tudo foi tratado por telefone, e lá foi o quarteto, parte empolgado, parte com medo e parte revoltada para Santa Maria. Lá não sei dizer o que aconteceu, se o Matra superou minhas expectativas, se foi impulso ou no fundo não tinha rodado 1500 km, feito tanto alarde para voltar de mãos abanando, o que talvez não tivesse sido uma má idéia, já que viagem de volta, mesmo sem tempo, e com pouco dinheiro, foi muito especial, quando nos demos conta, estávamos conhecendo boa parte do sul do país, sem planejamento nem nada, passamos por cidades como, Gramado, Canela, Joinville, Igrejinhas, Florianópolis, Torres, Brusque, Santa Maria e muitas outras, no total foram mais de 3.ooo Km rodados em 1 semana. Obs: Não passem por Igrejinha, pois existem muitas lóginhas de botas po lá.

(projeto estrutura) (estrutura metalica)
(chapas de aluminio) (isolamento termico)
(janelas de aluminio) (parte externa concluida)

De volta ao lar. O processo de construção do motor home começou, fiz o projeto da estrutura metálica, que foi executado por um serralheiro amigo meu, fechei o baú com chapas de alumínio, instalei esquadrias de alumino, com vidro laminado, forrei o interior com isopor e revesti com maderite branco, pintei, estava tudo QUASE certo, foi então que os problemas começaram a surgir,o primeiro e mais grave, é que extrapolei o orçamento do motor home, só no casco, depois, não estava conseguindo documentar para 4 pessoas, pois o Matra no Documento, era para 2 passageiros, e para poder viajar outras 2 pessoas no baú, precisava fazer uma ligação com a cabine, o que não me soava bem, junto a isso, apareceram vazamentos nas janelas, e comecei a perder a confiança na mecânica, pois apesar de estar bonito já tinha sido muito usado. E, resolvi vende-lo. Para minha surpresa, e pra me deixar com um pouquinho de arrependimento, foi muito fácil, coloquei o anuncio na internet, e em poucos dias apareceu um interessado e determinado a comprá-lo, e assim se foi O MATRA. Pelo menos fiz as pazes com a PATROA.

Conclusão, a idéia e viável, mas e necessário um carro mais novo, e colocar a confecção do home, nas mãos de uma empresa especializada.